Tô bege, achei uma série na Netflix em catalão
Na semana passada, eu resolvi assistir a uma série que estava me perseguindo há algum tempo na Netflix: Merlí. Essa série me encantou de tal maneira que terminei de assistir à primeira temporada (e única até o momento, que eu saiba) em dois dias. É daquelas histórias para as quais você não dá nada no início. O primeiro episódio, inclusive, chegou a me lembrar um pouco a Malhação do início dos anos 2000 (ai, que saudade da Vagabanda). Só para explicar: comecei a assistir apenas com o intuito de escutar o catalão, já que é um pouco raro encontrar produções cinematográficas neste idioma.
Mas vocês não vão acreditar: a série é fantástica. Não tem nada a ver com Malhação, exceto pela faixa etária da maioria dos personagens (que estão no ensino médio). Na verdade, em algumas partes lembra muito mais o filme Sociedade dos Poetas Mortos. Consegue combinar comédia e drama de forma muito complexa e, diferentemente da série da Globo, Merlí não possui um traço sequer de maniqueísmo.
Maniqueísmo
"Concepção da realidade através de dois princípios opostos" (Aurélio)
Histórias maniqueístas são aquelas cujos personagens são marcados por extrema bondade ou extrema maldade; nunca te deixam na dúvida de "por quem torcer".
Para começar, o personagem principal é Merlí, um professor de Filosofia desempregado. No primeiro capítulo, ele consegue um trabalho em uma escola pública de Barcelona (adendo: não parece uma escola pública). Acontece que o seu filho, Bruno, que vai morar com ele depois que sua mãe se muda para a Itália, nem desconfia que é para sua turma que o pai lecionará.
Eu, como boa romântica, costumo buscar um personagem preferido para torcer por ele. Porém me surpreendi ao descobrir, por exemplo, que Merlí pode ser ótimo professor mas também um perfeito malandrilson. Enquanto dá exemplos bizarros sobre cada filósofo na sua aula (como quando, ao ensinar Maquiavel, encoraja um aluno a cometer uma pequena falcatrua para conquistar uma garota), ele acaba criando inimigos – como alguns professores da escola, que não admitem sua forma de lecionar. Foi muito difícil, para mim, definir padrões de comportamento para os personagens, já que esta é a essência da série:
Quando você descobre o arruaceiro da turma, logo a série mostra que ele cuida da avó com Alzheimer. Se você pensa que uma garota não quer saber de estudar, ela, na verdade, é a que mais sofre com o comportamento odioso da mãe. Quando você acha que uma menina é a mais segura da turma, de repente imagens íntimas dela são espalhadas pela internet, e vários dos personagens por quem você criou afeição se mostram os mais perversos. Quando você sente dó do rapaz que esconde a homossexualidade, ele se mostra o mais preconceituoso de todos.
Para completar, talvez a parte mais interessante dessa série seja o fato de cada capítulo apresentar um filósofo de forma prática. É incrível como, além de o professor explicar de forma espetacular a filosofia do pensador em questão, o capítulo inteiro gira em torno deste assunto, normalmente apresentando um personagem ou situação que tem relação com a filosofia.
O meu pai, que é bem exigente com os filmes e séries que assiste, disse que não via uma série como essa há anos. Ele gostou demais! Isso também se deve ao fato de que ele ama filosofia.
Mas, mesmo que a filosofia não seja a sua matéria favorita na escola, vai na fé:
Merlí é A série. Conseguiu me fazer rir e chorar algumas vezes. Realmente tirei o chapéu.
Merlí é A série. Conseguiu me fazer rir e chorar algumas vezes. Realmente tirei o chapéu.
Ainda está em dúvida? Assista ao trailer abaixo (só achei esse, quero ver você entender, hahaha). Dica marota: Não assista à série em espanhol, a dublagem é muito estranha. Vai por mim, catalão é legal também.
P.S. 1: Mostrei este trailer ao meu amigo que, aos primeiros 10 segundos, tirou o fone e me disse: "tu tá ferrada" (sobre o fato de que eu vou ter que aprender catalão).
P.S. 2: Aprendi umas palavrinhas em catalão. Pra variar, a maioria é xingamento. Se você quiser dizer algo como "Que merda" ou "Que diabos", diga "Què collons!" (lê-se culhons). O Merlí fala isso o tempo todo 😂
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